20.12.05

Dezembro

por Monja Coen (monjacoen@hotmail.com)

Dezembro é mês de final. Corinthians campeão. Fim das aulas. Fim do ano. Férias. Décimo terceiro salário para os que recebem. Aliás, sabiam que monja não tem décimo terceiro nem férias? E que monja não tem sindicato nem órgão que a represente e garanta seus direitos? Monja tem muitos deveres. E às vezes fica devendo tanto que se retira em meditação e prece para procurar o caminho de aprender a suportar sua própria limitação e insignificância.

Para Buda, dezembro é o mês da iluminação. O jovem peregrino fugiu de seu castelo repleto de luxo e riquezas, da Daslu da Índia antiga, de seguranças e casas monitoradas, das amantes carentes e esposas enciumadas, dos bajuladores, dos artistas e atores, dos pais reais e possessivos, que não queriam saber qual a vocação do filho, mas já haviam decidido que ele seria rei.

O jovem Sidarta, que era casado com a mais bela moça, pai de um menino lindo e sadio, fugiu de tudo isso. Fugiu de dinheiro, fama e abundância. Das carruagens – hoje Ferraris, BMWs, Toyotas e Mitsubishis. Fugiu das roupas de seda, das jóias, dos empregados com grandes abanadores, das unhas bem tratadas e dos cabelos perfumados. Fugiu de tudo e no meio da noite se embrenhou na floresta.

Que medo passou o jovem príncipe sem a corte e os empregados? Caminhou sozinho de cabelos cortados e roupas trocadas, como um sem-teto. Encontrou um grupo de homens enlouquecidos como ele. Ou menos, talvez, pois não tinham tantas coisas materiais.

Seis anos se passaram e ele se foi. Encontrou outro grupo de ascetas muito magros, que só comiam um pinhão por dia. Não dormiam, não se banhavam. Ficou esquelético e triste. Desistiu.

Banhou-se nas águas do rio Ganges. Comeu arroz doce com canela, cravo e leite (que não era condensado na época), feito pela bela pastora Sujata. Sentou-se em zazen. Começou uma meditação profunda, com pernas e pensamentos cruzados. Era melhor ir embora, visitar o pai, ver o filho. Mas ele ficava. Como se houvesse vozes o convidando a voltar para ser rei, príncipe e marido. Ervas cresceram entre suas pernas e braços. Passarinhos fizeram um ninho em sua cabeça e aranhas criaram teias em suas sobrancelhas. Permanecia sentado e silencioso.

Demônios vieram tentar com sexo. Mulheres lindas e sedutoras chegaram dançando. O jovem se manteve imóvel e elas desapareceram como fumaça. O rei de todos os diabos ficou furioso. Foi pessoalmente dissuadi-lo. Chamou-lhe de falso e mesquinho, afirmou que não era verdadeira a sua devoção. Buda colocou a ponta dos dedos no chão e disse: “a Terra é minha testemunha”. E assim o diabo se foi.

A sétima noite terminou. Ao amanhecer, a estrela da manhã brilhou no céu. Ele amanheceu com o dia, iluminou-se com a luz que é dele, sua e minha. “Eu e todos os seres da grande Terra simultaneamente nos tornamos o caminho”, disse. Foi o primeiro rugido do leão de Buda, o iluminado. Percebera que somos todos um só corpo e uma só vida. Era 8 de dezembro. Que possamos agir com amorosidade de quem sabe sermos todos iluminados.

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